sexta-feira, 15 de maio de 2020

As insónias dos que voltaram aos “ossos do ofício”

Artigo da responsabilidade da Dra. Marisa Marques, Psicóloga Clínica e da Saúde

Depois de muitas semanas de confinamento, muitos são os portugueses que regressam ao mundo do trabalho. Muitos revelam “nem dormi direito esta noite” com o receio de voltarem “à sociedade” e serem contagiados. Outros, noite após noite, receiam o que o futuro lhes reserva: desemprego, dificuldades económicas, dificuldades em lidar com os filhos e com a tele-escola… Tudo é ansiedade!!

Por um lado, “o medo e a ansiedade foram úteis para cumprir o isolamento” mas, por outro, serão “bloqueadores na hora de sair”. Porque no dia-a-dia passamos, não só a lavar as mãos muitas vezes, a tapar o nariz e a boca quando se tosse, mas também começa-se a verificar os comportamento de evitamento de espaços públicos e mesmo o contacto com as outras pessoas. Estes são comportamentos protetores que, pela repetição, tornar-se-ão

instintivos e rotineiros. No entanto, é importante alertar para as consequências que acarretam: obsessões, desconfiança, estigma e ansiedade social, com pessoas a ter medo de sair de casa e a recolherem-se mais, mais e mais…

Sentimentos de taquicardia, sudorese, perda de apetite, dificuldade em respirar, problemas de concentração e sono, tristeza, raiva e culpa serão mencionados por grande parte da população portuguesa, se não toda, em algum momento. E em quadros extremamente severos poderão desenvolver ideações suicidas e adoção de comportamentos de risco (consumo de substâncias).

Tendo em conta cenários de pandemia anteriormente vividos, sabemos que a população em geral irá experienciar quadros de depressão e ansiedade . Sendo que as vítimas de infeção COVID-19, profissionais de saúde e outros profissionais de 1º linha poderão desenvolver quadros mais complexos, como a perturbação de stress pós-traumático (PSPT), devido à sua exposição prolongada e risco de saúde desde o aparecimento do primeiro caso de COVID-19 até aos dias de hoje.

Todas essas preocupações são fenómenos universais e que todos nós vivenciamos hoje. Mas quando começam a afetar o nosso dia, a nossa noite e a causar sofrimento e ansiedade, devemos mesmo procurar ajuda. Frequentemente, pequenas alterações no quotidiano ou nos hábitos podem diminuir ou mesmo eliminar as reações ansiosas. São exemplos disso as técnicas de relaxamento e meditação, uma boa gestão e organização do tempo, uma comunicação regular e eficaz com os outros (tanto no trabalho como em casa).

No entanto, em 90% dos casos pode ser necessário o recurso a medicação e apoio psicológico. Este tipo de tratamento é, habitualmente, de longa duração e deve ser cuidadosamente acompanhado. Devendo sempre ser evitada a automedicação, uma vez que para além de poder causar dependência e potenciar o aparecimento de vários efeitos secundários, por si não é a solução eficaz. Na maioria dos casos, trabalhar as causas da Ansiedade é sim a solução mais adequada, no entanto ainda haverá casos que é necessário a conjugação dos dois meios de tratamento (psicológico e farmacológico).

Não se esqueça de que é essencial não descuidar a sua Saúde! Se se encontra nesta situação, deixo-lhe 3 regras de sobrevivência:

  1. Peça ajuda , nomeadamente, psicológica . Lembre-se que o primeiro passo

para que possa melhorar a sua condição, é aceitá-la, olhá-la de frente e

erguer-se perante ela.

  1. Procurar manter sempre a calma e, por muito difícil que seja, substituir os

seus pensamentos negativos por pensamentos positivos.

  1. Não se isole!

Estamos aqui para ajudar


As insónias dos que voltaram aos “ossos do ofício” publicado primeiro em https://saudebemestar.com.pt/

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